quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Como descrito no último post, estive ontem na Favela dos Ciganos. Aproveitando do ensejo, fotografei este absurdo que não precisa nem mesmo de descrição. 

Olhando pela janela de minha casa não vejo o mar, não vejo as montanhas ou as silandeiras florestas mineralizadas da Antártida; tão somente me deparo com a rua, o que me é costume e passagem. Mirando por minha ventana não vejo também o trem do progresso cortando à foice o meu acesso à Universidade imponente ali à frente. Não vejo! Não vejo menos ainda que o vizinho mais próximo é fétido, é desumano, é amontoado de lixo. O que dizer do despejo de restos em meu quintal? No meu não há! Mas haja frieza para congelar os olhos e o coração ante a uma situação como a que ilustro abaixo! Ô prefeitura! Ô Rede Ferroviária Federal! Tem gente morando aí! Uma caçamba para despejar a imundice já minimiza a problemática. Ora! Veja que esse é quintal de ser humano e é passagem de cidadão que vem e vai por aí. Que nojeira, Senhores! A minha indignação me leva a reclamar educadamente por meio dessa singela e pouco repercussiva, até o momento, ferramenta:
Senhores responsáveis, logo após mandarem os filhinhos escovarem os dentes e a empregada varrer direito a casa toda, façam o que é obrigação primária e limpem a merda que sai de vossas bundas. O terreno ao lado da favela está todo cagado, por favor não esqueçam mais de puxar a descarga!
Atenciosamente,
Uma cidadã que paga seus impostos como qualquer outro.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Hoje é um dia muito especial para mim! No último post eu disse que não esperaria mais para começar a coletar informações exclusivas, para conversar com moradores etc. Pois foi isso o que fiz hoje! Com minha cara, minha coragem e a companhia sempre agradável e produtiva da minha amiga Juliana Oliveira, fui até a Favela dos Ciganos. Ao chegar no ponto de encontro com ela, lá estava a maluca trocando a maior ideia com o Sr. Jorge, um comerciante que tem uma tenda/bar na entrada da favela. Maravilha! Entrei no papo e comecei a entrosar com o Sr. que estava ali consumindo. Perguntei se eles conheciam a Rose, aquela de quem já falei algumas vezes aqui no blog, e o cliente do Sr. Jorge disse ser vizinho dela e nos mandou ir até lá. Ir até lá! (...)
Pensei e... na verdade acho que não pensei não. Quando dei por mim já estava junto à minha amiga adentrando a comunidade. Olha, vou dizer, ninguém nos parou para perguntar o que fazíamos lá, nada demais nos aconteceu. Achamos o lugar muito arrumadinho inclusive, fomos até o final da favela. Logo atrás de nós o carro de entregas de gás chegava e eu achei o máximo. Que bom que consegue-se ter certos confortos do nosso cotidiano por lá também. Tinha muita gente nas ruas, criança tinha a rodo. As travestis já também citadas aqui estavam a andar, homens, mulheres, animais, também alguns comércios lá dentro, cabeleireiro, bar, enfim, chegamos ao fim do corredor feito de casas dos dois lados e perguntamos às duas moças que estavam sentadas proseando onde morava a Rose. Elas nos indicaram a casa logo à frente de onde estavam e lá fomos nós, chamar a lutadora que em cima de uma cadeira de rodas transforma a vida de pessoas carentes de sua comunidade. As vizinhas disseram que ela tinha ido ao médico, mas que a filha dela, Jamile, deveria estar em casa. Chamei pela menina que nos atendeu sorrindo e muito receptiva. Expliquei sobre as minhas intenções e ela sorriu ainda mais largo. Eu disse que gostaria de marcar uma conversa com sua mãe e ela pediu o número do meu telefone, passando, logo em seguida, o dela, o da mãe e o da irmã, Jade, que gritava lá de dentro: -Passa o meu também!

Poxa vida! Há quanto tempo não sou tão bem quista por pessoas que nem me conhecem! Estou feliz pois logo teremos novidades importantes para a continuação desse projeto.

Talvez eu não tenha citado e realmente acredito que não, mas uma das minhas intenções é fazer desse projeto um projeto beneficente. Livros e shows. Ingressos trocados por quilos de alimentos. Sei que o pouco faz a grande diferença para pessoas dessa realidade.

Vambora!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pelo que percebo, as informações que eu poderia garimpar aqui na internet já estão todas reunidas no blog. Pode ser que eu encontre algum achado um dia, mas o fato é que não posso mais esperar, não posso mais perder tempo! Estou feliz por um lado, um passo já foi dado, esse de reunir informações conseguidas na internet, agora "bora" para o próximo. Estive aguardando por uma pessoa para fazer contato pessoal com os moradores da Favela dos Ciganos, mas não aguento mais esperar e darei meus pulos. Estou louca para ter mais para contar e para começar a escrever o livro, ainda que um esboço dele, sei lá... O mais importante é saber aonde se quer chegar e caminhar nessa direção. Então lá vou eu!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Uma triste História infelizmente vivida por muitas famílias diferentes e em muitas favelas diferentes...
(Matéria na íntegra)


terça-feira, 8 de julho de 2008 7:02

Menina de 5 anos morre em incêndio

Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC

Uma menina de 5 anos morreu durante um incêndio na favela dos Ciganos, ao lado da Estação Utinga, em Santo André. Cassilene Dulcidalva de Souza estava com dois irmãos menores em um barraco sem nenhum adulto no momento do acidente, anteontem à noite. O Corpo de Bombeiros foi chamado, mas não conseguiu resgatar a menina a tempo. Os outros irmãos saíram antes das chamas consumirem a moradia.
Nenhum barraco vizinho foi atingido. As casas dessa favela são construídas ao lado da linha de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). A casa que pegou fogo fica no fim da favela, que é composta apenas por um corredor estreito - o que dificultou a chegada das equipes de socorro.
Um laudo preliminar solicitado pela Polícia Civil ao Instituto de Criminalística, indica que o incêndio começou a partir de uma vela acesa no barraco. A mãe de Cassilene, Dulcidalva Dulcinéia de Souza, 28 anos, estaria trabalhando e o pai, Casemiro Alfredo de Souza, 32, havia saído por alguns instantes para ir a um mercado do bairro. O laudo definitivo deve ficar pronto em até 30 dias.
Dois vizinhos da família teriam se comprometido a cuidar das crianças caso alguma delas saísse de casa, mas ninguém viu o fogo começar. Um inquérito foi instaurado no 2º Distrito Policial de Santo André e, pelo menos por enquanto, os pais não foram responsabilizados pela morte da menina.

ENTERRO
O corpo de Cassilene foi transferido para o Piauí, terra de origem do pai da menina. A família seguiu viagem ontem para acompanhar o enterro. Vizinhos contaram que os pais estavam transtornados com a tragédia, e que não tinham mais parentes aqui. A família moraria na favela dos Ciganos há três anos.


Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/14516/menina-de-5-anos-morre-em-incendio.aspx

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Encontrei novas informações, não que sejam conclusivas, mas são muito importantes. Uma das matérias do Diário do Grande ABC que postei anteriormente, afirmava que as primeiras pessoas a morar no terreno chegaram em meados do segundo semestre de 1999. Acabo de encontrar outra matéria, porém, datada em 3 de maio de 2000 que traz o seguinte: "Entre os moradores que decidiram erguer uma casa de alvenaria está o pedreiro Antônio Gomes do Nascimento, que mora há dois anos no local com a família - no começo, em um barraco de madeira. Segundo ele, as primeiras moradias foram construídas há quatro anos." Ou seja, em 1996.

Eu já postei também quanto a Transpetro (empresa de Oleoduto da Petrobrás) e suas intenções de retirar as famílias do local por este ser considerado zona de risco. A nova informação é que a própria Rede Ferroviária Federal (dona do terreno) já chegou a investir nessa causa. Claro que isso não seria novidade, mas agora deixou de ser hipótese para ser dado registrado. Deixarei ao fim do post a matéria na íntegra.

E enfim a terceira e valiosíssima informação é sobre os ciganos que lá habitavam. Ao que parece, alguns acabaram por migrar para Minas de onde vieram. "A cigana Devília Soares, 70 anos, vendeu por R$ 500 uma casa que construiu no local, e agora divide uma tenda com parentes. "Passei a morar embaixo do viaduto da estaçao de trem, mas tive de sair porque estao construindo lá e jogavam terra na gente", contou a cigana. Ela afirma que, quando morava na casa de alvenaria, sofreu represália da polícia. "Eles (policiais) vieram aqui e disseram que eu nao poderia construir uma casa, só barraco". Com o dinheiro que juntou, vai voltar com as 15 pessoas da família para Minas Gerais."


Segue a matéria na íntegra:


quarta-feira, 3 de maio de 2000 22:47

Rede Ferroviária vai tirar famílias de terreno em Utinga

Ana Macchi
Especial para o Diário


A RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A) decidiu retirar as famílias que invadiram um terreno próximo à estaçao Utinga, em Santo André, e que pertencente à empresa. Segundo o chefe do escritório regional da rede em Sao Paulo, Airton Santiago, a RFFSA ganhou recentemente na Justiça a posse do terreno. "Só falta combinar com a Polícia Militar a data em que iremos retirar as famílias", afirmou Santiago. Atualmente, cerca de 250 pessoas vivem no local, que fica às margens da linha de trem.
á três meses, a Prefeitura de Santo André visitou o local e constatou que 14 famílias habitavam o terreno em barracos. Desde entao, o número de invasores aumentou, e eles passaram a construir casas de alvenaria. A maioria dos moradores está desempregada, mas também há um grupo de ciganos vivendo em tendas no terreno, que nao possui água encanada, luz ou esgoto.
Entre os moradores que decidiram erguer uma casa de alvenaria está o pedreiro Antônio Gomes do Nascimento, que mora há dois anos no local com a família - no começo, em um barraco de madeira. Segundo ele, as primeiras moradias foram construídas há quatro anos.
Antônio afirma que a Prefeitura mandou um fiscal ao local, que pediu aos moradores que abandonassem suas casas. "Como estou desempregado e nao tenho condiçoes de me mudar, vou ficar aqui mesmo", disse. A Prefeitura de Santo André, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que nao intimou nenhum morador.
 "Começamos a construir aqui porque os outros espaços já estao tomados. Tem gente que já gastou R$ 8 mil em uma casa. Por isso, temos medo que derrubem", explicou Antônio.
A cigana Devília Soares, 70 anos, vendeu por R$ 500 uma casa que construiu no local, e agora divide uma tenda com parentes. "Passei a morar embaixo do viaduto da estaçao de trem, mas tive de sair porque estao construindo lá e jogavam terra na gente", contou a cigana. Ela afirma que, quando morava na casa de alvenaria, sofreu represália da polícia. "Eles (policiais) vieram aqui e disseram que eu nao poderia construir uma casa, só barraco". Com o dinheiro que juntou, vai voltar com as 15 pessoas da família para Minas Gerais.
O comerciante Paulo José Maria Júnior trabalha perto da estaçao de trem e diz que há três meses a polícia esteve na regiao e intimou os invasores a abandonar o local. "Tudo ficou por isso mesmo. Quando a polícia chega, eles vao embora, mas, depois, voltam".

Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/90000116376/rede-ferroviaria-vai-tirar-familias-de-terreno-em-utinga.aspx?ref=history

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde,  a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer,  a segurança, a previdência social, a proteção à  maternidade e à infância, a  assistência aos  desamparados, na forma desta Constituição. 


Hoje trago mais uma matéria publicada pelo Diário do Grande ABC, a qual disponibilizo abaixo na íntegra. Faço uma reflexão e caio no abismo sem fim da indignação quase que atada em suas mãos e em sua boca. Vamos analisar o que temos: um cidadão que se sujeita a puxar uma carroça (ofício de jumento), recolhendo as migalhas, os restos que outros deixam pelas ruas (poluentes, diga-se de passagem) para com isso se alimentar e alimentar também aos seus filhos, filhos do Art. 6º que prevê mas não efetua tão bem quanto os fiscais da Prefeitura contra os carroceiros não cadastrados na DTV (Diretoria de Trânsito e Vias). Então lá vai o cidadão que evidentemente não teve tantas oportunidades de emprego melhor, lutar para viver sob o manto da honestidade e da justiça. Carrega nas costas o peso de ser subumano. Talvez a Constituição Brasileira deva ser revista, concedendo a esses sub-seres direitos iguais aos de todo ser-humano. Ah! Mas que terrível deslize o meu, o Art. 5º está aí para dizer que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Mas é isso mesmo o que assistimos com o traseiro colado na poltrona e o controle remoto às mãos? E por falar em TV, caso decido eu comprar uma TV nova, pagarei altíssimos impostos sobre a compra. Depois pago pela energia elétrica e por mais impostos salgadinhos salpicados na pipoca. Huuuum! Aperto o botãozinho power e lá está um carroceiro à frente de um fiscal, clamando para que a sua ferramenta de trabalho não seja confiscada para que os seus filhos não passem fome; e os meus impostos ali, financiando a atitude desumana do fiscal e a lei radical da Prefeitura. Eu, corroborando com eles sem ao menos ter ciência do que estão fazendo contra os meus. Não estou contra a regularização da atividade dos carroceiros, mas tirá-los assim a carroça sem ao menos ceder-lhes um prazo pertinente à devida regularização? E o que é isso de exigir antecedentes criminais? No mínimo incoerente tanta burocracia para o exercício da atividade, no que sinto cheiro de boicote em favor de uma São Caetano do Sul Cidade Modelo. Está mais fácil, caro governante, trocar a carroça pela semi-automática! Antecedentes criminais? Para que conste, mortes e roubos ocorridos na linda SCS, acabam por ser registrados na delegacia próxima em Santo André, o que possibilita os baixos índices de criminalidade para a primeira cidade. Agora fica mais claro o motivo de tanta exigência para ter o direito de puxar carroça? Pois pelo que parece o carroceiro é mais danoso à imagem da cidade do que o bandido que não atuou lá. Vergonha!

 Um carroceiro morador da Favela dos Ciganos e mais uma História.


17/12/2008 07:08:00

São Caetano acirra fiscalização de carroceiros

Fabiana Chiachiri
Do Diário do Grande ABC

A fiscalização sobre os carroceiros de São Caetano está acirrada. Nos últimos dois meses, 15 pessoas tiveram seus carrinhos apreendidos por fiscais da Prefeitura. O motivo seria a falta de cadastro destes trabalhadores junto à DTV (Diretoria de Trânsito e Vias).
Sem saber que precisava ser cadastrado, o carroceiro Marcos Alves da Silva, 28 anos, teve seu instrumento de trabalho apreendido na última quinta-feira. "Estava próximo ao Corpo de Bombeiros, no bairro Barcelona, quando o fiscal começou a me xingar. Não sabia que precisava ser cadastrado", disse ontem, enquanto puxava outro carrinho emprestado na Rua Rio de Janeiro.
Mesmo implorando para que o fiscal não apreendesse seu veículo, Silva não foi atendido. "Tenho duas filhas para sustentar. Não tenho outra renda", disse o carroceiro, que mora na favela dos Ciganos, no bairro Utinga, em Santo André.
Os carrinhos apreendidos são encaminhados ao pátio da DTV. Para retirá-los, os carroceiros devem pagar multa, diária no pátio, guincho e se regularizar. A assessoria da Prefeitura não informou os valores dessas taxas.
Atualmente, São Caetano possui 117 carroceiros cadastrados. É o caso de Carlos Evangelista da Silva, 41 anos, que trabalha há cinco pelas ruas da cidade. "Uso colete com faixas refletivas e tenho carteirinha. Mesmo assim é difícil, pois as exigências são muitas."
Desde 2005, quando foi decretada a lei municipal que regulariza a atividade dos carroceiros, todos são obrigados a se cadastrar. Para isso, devem apresentar cópias do RG e CPF, comprovante de endereço, inscrição municipal de autônomo e atestado de antecedentes criminais, além de preencher um termo de responsabilidade. As empresas de sucatas e reciclagem também devem ser registradas.


Fonte: http://www.dgabc.com.br/Print/3258319/Default.aspx

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Quanto efetivamente as coisas estão diferentes da época da escravidão?

O colono e o fazendeiro - Carolina Maria de Jesus



"Passa o ano todo trabalhando
Que grandeza!
Enriquece o fazendeiro
E termina na pobreza..."







quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Há uns seis ou sete anos atrás, em um período em que eu tocava e cantava em bares e restaurantes, resolvi aprender a tocar "O Meu Guri" do grande Chico Buarque. Comecei pela manhã. Seis horas da tarde e eu ainda me debulhava em lágrimas, sem conseguir decorar um só verso a seco. É muito importante colocar a importância dessa música na minha formação de opinião e discernimento acerca dos diversos pontos de vista. Os veículos de comunicação estão sempre aí, propagando os horrores causados por bandidos, traficantes e afins. Eu não questiono que tudo isso seja prejudicial e deveria ser erradicado da sociedade, mas entendo hoje que existe um outro lado, um grande mal por trás disso tudo, um Sistema. Antes de "pensar", engolindo o imposto pela mídia, tudo o que eu tinha era raiva de bandidos, sem estendê-la ao seu original causador. Ainda hoje ouço o meu avô, um amante declarado dos tempos de ditadura, direcionando toda a sua revolta aos criminosos comuns, esses que não estão nos parlamentos ou têm contas em agências bancárias da Suíça.
Criminalidade é consequência antes de causa, tentar combatê-la sem primeiro oferecer condições dignas a todo e qualquer cidadão, é o mesmo que tentar parar de comer para não ter que limpar a bunda. Não funciona: a necessidade faz a merda! Bem, no caso da sociedade é a própria merda que faz a necessidade...




O Meu Guri
(Chico Buarque)
Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)




quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Esta é a entrada da Favela dos Ciganos. Um dos portais do mundo ao seu próprio fundo. Passa quintal, pula muro, segue até ficar escuro; chegou! É a boca de lobo, o ferro velho do sistema. Não chega a ser lixo que lixo é coisa que já prestou. É aterro sanitário, usina da reciclagem dos restos do velho Creonte*. Cancela de desventuras, umbral da cidade grande, a verdadeira porta dos desesperados sem direito à esperança de abrir e dar com o sonho, sem sequer sono tranquilo de quem dorme sempre alimentado. Portão da casa de cidadãos que me tiram o chapéu pela força que têm. De cidadãos! De gente, eu juro!

*Creonte é um Rei da Mitologia Grega que usa de artimanhas para voltar ao reinado após necessitar abdicar do trono. É também personagem da peça teatral publicada em livro, Gota d'Água, escrita por Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes. Em Gota d'Água Creonte é um rei dos tempos atuais, dono de um império imobiliário e lúcido na defesa de seus privilégios, que não mede pobreza ou dificuldade alheia para continuar no gozo de seu conforto e glória.

Fonte (foto): http://terradasboasideias.blogspot.com.br/2011/12/na-favela-dando-sentido-vida-numa.html

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Os meus pensamentos estão presos ainda na maior penúria retratada por Carolina Maria de Jesus: a fome. Adianta chorar minhas lágrimas bem-nutridas?

Uma pausa. Uma reflexão.

Em favor da caridade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

No último post deste blog, disse ao final que prefiro a carroça puxada a braço do que um carro sem gasolina. Sentindo-me inapta a conseguir alguns resultados, mesmo com este projeto, coisa de ser humano que tem dessas adinamias, caí um tanto anêmica e admito. Mas minha sorte é grande, e tenho ao meu lado pelo menos uma pessoa que sempre acreditou em mim. Pessoas assim nos erguem e, quando ergui os olhos, deparei-me com Carolina Maria de Jesus. Valei-me que prefiro mesmo a carroça puxada a braço! e são os braços fortes dessa Carolina que puxava carroça para catar papel, que hoje me inspiram um tanto mais e me espertam: até aqui tive fome, não hei de morrer dela.




Pequeno Resumo: Carolina Maria de Jesus (1914 - 1977)

Tendo vivido a infância e a adolescência em Sacramento, Estado de Minas Gerais, a filha de negros Migrou para São Paulo em 1947, em busca de vida melhor, indo morar na extinta favela do Canindé, na zona norte da cidade. Trabalhou como doméstica e tornou-se catadora de papel até sua morte. Mãe de três filhos, Carolina nunca casou-se. Foi matriculada em 1923, no Colégio Allan Kardec, primeiro escola espírita do Brasil. Ali estudou pouco mais de dois anos graças à generosidade de uma benfeitora, Maria Leite Monteiro de Barros, para quem sua mãe trabalhava como lavadeira. Toda sua educação formal na leitura e escrita advém deste pouco tempo de estudos. Até aqui temos uma história que poderia ser a de qualquer outra mulher brasileira pobre: negra, semialfabetizada, favelada, como tantas que existem pelo Brasil afora, não fosse por um detalhe: a paixão de Carolina Maria de Jesus pela leitura e pela escrita. Isso fez toda a diferença em sua vida. Em muitos cadernos Carolina escreveu, além de outras obras, "Quarto de Despejo: Diário e uma Favelada", que retrata seu cotidiano e o de uma sociedade miserável, à margem da sociedade. Essa obra mais conhecida, contou com tiragem inicial de dez mil exemplares esgotados na primeira semana. É importante ressaltar que foram vendidos em torno de um milhão de exemplares em mais de quarenta países, fazendo dessa, uma das obras brasileiras mais vendidas, traduzida em 13 idiomas. Apesar disso, Carolina morreu pobre, catando papel*. Independentemente de seu fim, ela fez o que se propôs e isso continua vivo até hoje, através deste post, por exemplo. E também, apesar de qualquer circunstância em minha vida, sei que valho por mais um motivo: rememorar Carolina Maria de Jesus. Salve!


*Para entender os porquês de mesmo sendo tão bem sucedida em sua obra, Carolina morreu catadora de papel, e para saber mais e com maior riqueza de detalhes sobre sua vida e obra, indico o seguinte site: 
http://vendavaldasletras.wordpress.com/2010/07/17/carolina-maria-de-jesus-quarto-de-despejo/




Manuscritos de Carolina 

Maria de Jesus. Foto de 

Robert M. Levine, 1993

(...) em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.
(In: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 7. ed. São Paulo: Ática, 1998. p. 171).


Fontes: http://www.itaucultural.org.br/brasil_brasis/negro/sessao02.htm#

http://vendavaldasletras.wordpress.com/2010/07/17/carolina-maria-de-jesus-quarto-de-despejo/


sábado, 12 de janeiro de 2013

Acabo de ser informada de que o ECOA adiou a ação que estava programada para amanhã. Não sei ainda por quais razões, mas a amiga que me informou e que faz parte do grupo, deixou também uma excelente notícia: se tardar muito para acontecer uma ação do ECOA na comunidade, ela me levará antecipadamente para conhecer a Rose, uma das pessoas com quem eu mais tenho vontade de conversar. Deixei, no dia primeiro de janeiro, um link com a História da Rose, suas ações e importância para a comunidade. É admirável a força que ela, paraplégica por causa de um acidente de trabalho, concede aos outros ao seu redor, fazendo da vida das pessoas da Favela dos Ciganos, uma vida com mais dignidade e sorrisos.

Como visto, as coisas continuam andando muito bem! Estou um tanto preocupada por que, apesar de fazer um trabalho despretensioso, o quero fazer da melhor maneira possível. Bem, estou me esforçando e sei o quanto isso vale. Prefiro a carroça puxada a braço do que um carro sem gasolina.

Um ótimo fim de semana a todos!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Aqui há um pouco do meu sonho. Penso nisso e vejo as oportunidades que tenho para realizá-lo. Talvez os nossos caminhos e destinos sejam feitos disso: oportunidades... 
O menino com a bola de meia, com furo no teto, no dente, mira contente o campo: jogador! Olha feliz para os trilhos, levando o progresso, o acesso: -vou ser maquinista, sr.! Ergue a cabeça já tonta de tanto cansaço, menino já homem da realidade, vê a universidade: doutor! -Desça já daí, menino! Grita do barraco Dona Glória, fazendo seus doces para vender. Pula o menino de um salto do muro de sonhos sem se machucar, um malabarista treinado de tanto pular. Caminha assim, como pode o pobre, o forte, o doente da sociedade. Cresceu demente por nunca ter visto a oportunidade e sim logo a frente, à vontade, o oportunismo a lhe acenar: gerente! Então vira gente o menino acrobata, e assim vira escória, também, o peralta, da boca, que logo vê luz: anjo?!

Um pouco de "..." para todos nós.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Falava sobre o tráfico de entorpecentes em postagem anterior (08/01/2013) e uma das maiores e mais temidas das consequências desse comércio ilegal é a violência. Como já é conhecido, o meu contato com a Favela dos Ciganos durante os dois anos de curso na universidade ao lado (atual UniABC Anhanguera) foi externo, muito embora não tenha sido completamente alheio. Durante todo esse período, uma constante frase que eu ouvia das pessoas, principalmente dos alunos, era: tome cuidado ao passar pela favela! Muito ouvi falar em casos de furto nessa região, e não cheguei a ter conhecimento de casos mais graves, porém, sinceramente, nunca tive medo de passar ali, entretanto, a bem da verdade, há sempre um risco a mais, para não dizer vários.
Na postagem do dia 02 de janeiro desse ano aqui no blog, o colega Jair nos deixou um comentário com o manifesto de indignação em relação à violência que gira em torno do tráfico. Relatou que seu filho teve a bicicleta roubada e que existe, dentro da favela, receptador de objetos dessa natureza. O mais provável (e é óbvio) é que esses objetos são trocados por drogas pelos usuários que não dispõem de dinheiro para pagar por elas, o que gera um comércio ilegal paralelo ao de entorpecentes, o de compra e venda de objetos roubados.
O Diário do Grande ABC publicou matéria com declarações de alunos da UniABC e do Imes (Centro Universitário Municipal de São Caetano) amedrontados, alunos que não gostariam de ter que passar pela favela para pegar os seus ônibus*, e que pedem para que haja circulação desses ônibus em frente às universidades. Embora essa matéria seja bastante antiga, mais precisamente de outubro de 2002, vale à pena registrá-la de maneira a conseguir mais uma observação: estudei lá até o final do ano passado e não há, até hoje, circulação aos arredores das universidades de ônibus das linhas que estacionam na Rodoviária ao lado da favela. Para não ser injusta (acredito que seja um progresso alcançado no decorrer de 2002 para cá), a EPT (Empresa Pública de Transportes) libera hoje um carro por linha para passar nas exatas 22h30 em frente à  UniABC Anhanguera. O caso é que essa não é nenhum modelo de instituição e os professores acabam liberando os alunos bem mais cedo, praticamente todos os dias. Enfim, fica claro que a EPT não vai mudar os planos, visto que "o problema é da universidade agora". No fogo cruzado EPT x  UniABC Anhanguera, quem leva chumbo é o aluno que, indefeso (pois não há nenhum guarda nas passarelas), enfrenta todos os dias os perigos de uma realidade que não é a sua.


*Na postagem de ontem, no vídeo "Parte 4", registrei o percurso que é necessário fazer ao lado da favela e dentro de seu centro comercial para chegar à Rodoviária.


Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/90000317520/estudantes-de-duas-faculdades-reclamam-de-trajeto-inseguro.aspx?ref=history

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Estive ontem, antes da chuva que interrompeu a circulação dos trens nesta linha, nos arredores da estação de Utinga e da Favela dos Ciganos. Registrei o meu trajeto diário do trabalho à universidade e da universidade ao terminal rodoviário. Seguem os vídeos em quatro partes:





terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Favela está para tráfico de entorpecentes como política está para corrupção. É triste a realidade, mas a realidade é a maior solidez que existe. No Brasil, o tráfico efetivamente se inicia na década de 1980, com o Comendo Vermelho, no Estado do Rio de Janeiro. Drogas ilícitas passam a ser vendidas por moradores das favelas que encontram nele a fonte do dinheiro, do poder e do reconhecimento. Do Rio passa-se a enviar a droga a outros Estados, principalmente para São Paulo. Em 2000, os “laços” entre Rio e São Paulo se solidificam quando o CV faz parceria com o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa paulista, e juntos passam a traficar drogas.

Não é nenhuma surpresa que o tráfico também exista na Favela dos Ciganos. O Diário do Grande ABC (Fonte que tem sido essencial às minhas pesquisas) traz matérias como:

Encontrados 5 kg de cocaína e maconha na favela do Cigano

(http://www.dgabc.com.br/News/90000527132/encontrados-5-kg-de-cocaina-e-maconha-na-favela-do-cigano.aspx?ref=history) /maio de 2006.


Traficante é preso na Favela dos Ciganos

(http://www.dgabc.com.br/News/5776282/traficante-e-preso-na-favela-dos-ciganos.aspx)/ novembro de 2009.


Tiroteio em favela ajuda PM a achar laboratório de drogas

(http://www.dgabc.com.br/News/5982181/tiroteio-em-favela-ajuda-pm-a-achar-laboratorio-de-drogas.aspx)/ setembro de 2012.



... E que conste nos autos.


Outras fontes: http://pessoas.hsw.uol.com.br/trafico-de-drogas3.htm

http://soulbrasileiro.com.br/main/rio-de-janeiro/problemas-sociais/trafico-de-drogas-e-faccoes/trafico-de-drogas-e-faccoes/

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

E se a minha existência for assim um pequeno detalhe? Mas e se um pequeno detalhe fizesse a grande diferença? Olha que de pequeno em pequeno eu não seria grande somente, mas engrandecedor de gente.

Uma das boas novas que tive é que existe uma  iniciativa nacional de promoção da participação comunitária na construção de sociedades sustentáveis, a ECOA (Educação Comunitária Ambiental) que atua na Favela dos Ciganos de maneira a levar melhorias para o local e para as pessoas que lá vivem. Não que atuem apenas lá, mas têm dado bastante atenção a essa comunidade que é tão carente. Inclusive, em próxima ação que, de acordo com uma amiga que faz parte do grupo e me convidou a participar, acontecerá no próximo dia 13, a ECOA fará a revitalização da praça na entrada da comunidade. Estarei lá!

Outra iniciativa, publicada ontem no Diário do Grande ABC, é a da formanda Beliza Yoko Kasihara, 26 anos, que levou à comunidade a ideia de mini-hortas em garrafas PET, mostrando que é possível cultivar as próprias hortaliças mesmo com pouco espaço ou tempo. Como consequência dessa ação, vê-se a diminuição do lixo úmido nas casas, o incentivo à reciclagem e ao consumo de alimentos saudáveis, a participação de crianças e idosos no projeto, o aumento de consumo de hortaliças por parte das crianças e outros benefícios.
(A ação faz parte de projeto de estudante de Nutrição da Anhanguera Uniabc).

Pode parecer quase nada a muita gente, mas cada atitude, por menor que seja, faz a diferença. E nas palavras de Dalai Lama "Orar não é o mais importante. Importante é praticar a caridade e o amor, mesmo para uma pessoa que não seja religiosa."


Fontes: http://diariodoverde.com/diario-do-verde-apoia-ecoa/

http://www.dgabc.com.br/News/6002269/mini-hortas-transformam-habitos-e-gostos.aspx



sábado, 5 de janeiro de 2013

Hoje só quero registrar uma coisa: até aqui tudo está correndo maravilhosamente bem. Tenho data para conhecer a comunidade e as pessoas que lá vivem. Não vejo a hora! Irei começar efetivamente as entrevistas e para tanto estou me preparando. O grande amigo e parceiro, Bruno de La Rosa, que além de excelente músico tem um grande talento com a máquina fotográfica em mãos, já se dispôs a fotografar e logo teremos imagens exclusivas. Entre outras coisas boas, tudo dando certo!

Pois bem, para este sábado, mais uma descoberta que fiz por meio do Diário do Grande ABC: em matéria datada em setembro de 2000, o jornal diz que a primeira família de ciganos a se instalar no terreno que pertence a Rede Ferroviária Federal, teria chegado do Sul há um ano. Isso significa que a Favela dos Ciganos passou a existir a partir de meados do último semestre de 1999.


Um ótimo fim de semana!


Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/90000149428/comunidade-cigana-cresce-em-terreno-em-santo-andre.aspx?ref=history


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013



Por que Futebol Ferroviário?

Futebol: Alienação, pão do povo, circo.
Ferrovia: O progresso às custas do sacrifício da classe operária.

Farei breve explicação, posto que o tema exige um maior aprofundamento. O que sabemos a respeito da semelhança entre ferrovias e futebol? Que ambos provém da Inglaterra. Até aqui nenhuma novidade. Mas seria essa uma coincidência? Não! Vejam que o futebol e o rugby na Inglaterra eram vistos como desportos violentos, coisa para gente bárbara e sem cultura. A aristocracia os desdenhava, preferindo a prática da esgrima, caça e equitação. Pois bem! O que fez com que eles mudassem de ideia e posteriormente, em 1863, fundassem a Football Association, fazendo com que se criasse regras para a prática do jogo entre as equipes? O caso é que no auge da Revolução Industrial na Inglaterra, o proletariado passou a se enxergar cada vez mais como "classe" e o futebol, esporte violento, ocasionava perdas para a burguesia que sofria baixa dos operários pelo motivo principal de lesões. Ora! Nada melhor para a burguesia industrial do que controlar (com a criação das regras) um jogo praticado pelo proletariado.
Inicia-se, no começo do século XX, o futebol. O mesmo se deu com a vinda da estrada de ferro no noroeste paulista no final do século XIX e começo do século XX. 

"Há 115 anos, mais precisamente no dia 14 de abril de 1895, era disputada a primeira partida oficial de futebol no Brasil, em um campo na Várzea do Carmo, entre a SPR - São Paulo Railway, primeira estrada de ferro paulista, onde jogava Charles Miller [considerado o "pai" do esporte por aqui], e a Companhia de Gás. O placar foi de 4 a 2 para os ferroviários. No entanto, a ligação entre o esporte e a ferrovia é tão antiga quanto a própria origem desse meio de transporte no Brasil. A verdadeira "paixão nacional" nasceu, justamente, nos trilhos que impulsionaram o desenvolvimento de São Paulo.
 
De acordo com documentos do livro "SPR –Memórias de uma Inglesa", escrito pelos funcionários da CPTM, Moysés Lavander e Paulo Mendes, o futebol já era praticado no final do século XIX, em Paranapiacaba, um alojamento dos trabalhadores da SPR, atual Linhas A e D da CPTM. Uma planta do projeto de construção da Vila Nova em Alto da Serra, provavelmente de 1894, mostrava um campo de futebol. Charles Miller, brasileiro, nascido no bairro paulistano do Brás, retornou da Inglaterra onde estudara, em 1895, trazendo as regras do esporte, bolas, chuteiras e uniformes. De 1895 a 1898, Miller trabalhou na SPR, no setor de almoxarifado e divulgava o novo esporte."



Assim, brevemente explicado, deixo também uma foto do campinho de terra utilizado pelas crianças da Favela dos Ciganos para a prática do futebol. Parece sátira, é realidade: Os trilhos do progresso (Estação Utinga), os campos de futebol (primeiro plano de visão para a favela) e a favela, todos sob solos pertencentes à Rede Ferroviária Federal.



Outras fontes:

http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2010/10/brasil-e-o-opio-do-povo-futebol.html

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1807-55092010000200008&script=sci_arttext

http://tarsomartins204.blogspot.com.br/2007/04/as-origens-do-futebol-inglaterra-sc-xix.html

http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/football-club-inc-origem-esporte-revolucao-industrial-436039.shtml

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Vejam só! A matéria encontrada que irei postar hoje na íntegra, está datada em março de 2002. Observem bem: 2002! Se a favela continua lá, logo...


VIZINHOS DE OLEODUTO EM SANTO ANDRÉ SERÃO RETIRADOS
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC


A Transpetro, subsidiária da Petrobrás, vai retirar cerca de 50 famílias que vivem próximas à área de oleoduto da empresa no bairro de Utinga, em Santo André. O projeto prevê a remoção de famílias que ocupam barracos de madeira e casas de alvenaria na favela dos Ciganos – a área pertence à Rede Ferroviária Federal. Na região, a favela faz parte de um projeto-piloto de remoção em áreas de risco.
A intenção da estatal é desocupar uma área que fica próxima da faixa de 15 m por onde passam os oleodutos da Petrobrás. Pelo alto risco, este trecho é considerado não-edificável. Mais 5 m ao longo da faixa são considerados áreas de segurança. Segundo informações da assessoria de imprensa da Transpetro, o projeto de retirada está em fase final de conclusão, mas ainda não há detalhes disponíveis sobre como será feita a operação, o valor a ser gasto com indenizações aos moradores e quando deve ser feita a retirada.
Além da favela dos Ciganos – que recebeu este nome porque foi inicialmente ocupada por ciganos –, a Transpetro também desenvolve projetos de desocupação nas faixas de dutos em outras áreas da Região Metropolitana de São Paulo. No Grande ABC, a rede de dutos da Petrobrás liga os terminais de Santos e São Caetano e passa pelos municípios de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires.
O projeto na favela dos Ciganos começou no fim do ano passado e os moradores já foram cadastrados pela Transpetro. Os cadastros começaram a ser feitos na segunda quinzena de janeiro. A expectativa dos moradores é que, ainda neste mês, a Transpetro volte a entrar em contato com eles para definir a proposta de retirada.
Os cadastrados contaram que a proposta da estatal é pagar uma indenização a quem tiver de abandonar sua casa. A assessoria de imprensa da Transpetro informou que ainda não foi concluído o projeto de desocupação da área da favela e que, por este motivo, ainda não está confirmado se os moradores serão indenizados.
Em outros projetos de retirada de moradores em áreas de dutos da Petrobrás, a estatal fez convênios com prefeituras para a transferência das pessoas para unidades de habitação popular.
Barraco  – O desempregado Leonício Oliveira Borges, 32 anos, mora com a mulher e quatro filhos em um barraco na favela dos Ciganos. Ele disse que se mudou para o local há um ano e seis meses, depois de ter comprado o barraco por R$ 1 mil. Borges disse que pagava R$ 150 por mês de aluguel por uma casa em Utinga, mas teve de deixar o imóvel depois que ficou desempregado.
Borges disse que respondeu ao cadastro feito pela Transpetro e que espera ser indenizado para poder comprar um imóvel e se mudar da favela. “Aqui a gente não tem nem o que comer direito”, disse.

Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/90000267404/vizinhos-de-oleoduto-em-santo-andre-serao-retirados.aspx?ref=history

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O ponto auge das minhas caminhadas diárias para a Universidade do Grande ABC (atual Anhanguera) era o Viaduto Juvenal Fontanella, que liga as avenidas dos Estados e Industrial. Caminhando nessa direção, o lado para o qual eu olhava era o da direita, onde a vista é a da Favela dos Ciganos. Já na alça inicial do viaduto existem algumas casas, e uma delas em especial será o foco do post de hoje. Lembro-me de um dia estar passando por ali e de olhar para baixo (como já me era um costume). A janela e a porta da casa, que dão diretamente para o beco entre as casas e o viaduto, estavam abertas. Dentro dela uma travesti fazia as unhas sentada no sofá, a outra andava nua em direção à TV,  e a outra varria a casa com os seios à mostra. Essa imagem me foi captada muito rapidamente visto que eu não queria arriscar que uma delas não gostasse muito de me ver observando a vida alheia. Confesso que tive vontade, para mim era surreal uma cena assim. As vi muitas vezes por ali, são mais velhas e estão sempre travestidas (fora de casa), mesmo para irem ao mercado. Ah! Claro. Um dos meus objetivos é entrevistá-las e conhecer suas Histórias. Quem sabe me autorizem até mesmo fotografá-las.

Encontrei uma matéria na internet, do Diário do Grande ABC, datada em dezembro de 2008 que diz que a maioria das travestis que moravam nas ruínas da antiga fábrica de estruturas metálicas "Companhia Brasileira Fichet & Schwartz Hautmont", na Avenida Industrial, foram morar na Favela dos Ciganos, após desocupação do terreno por motivo de arrematamento por construtora. 
Em registro consta: "Adorava viver na fábrica, mas aqui está bem melhor. Nos sentimos mais seguros", disse Sheila Rodrigues de Almeida, 31."

Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/2642047/terreno-da-av-industrial-e-desocupado.aspx

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Primeiro dia do ano: estou ansiosa para começar a saga em busca de informações e Histórias. Ao iniciar a pesquisa por meio da internet, deparei-me com a História de Rose, uma cadeirante que por passar por dificuldades financeiras acaba por morar na Favela dos Ciganos. Tendo perdido o movimento das pernas em um acidente de trabalho, Rose descobre em suas ações em pró da comunidade carente um motivo para continuar vivendo e se sentindo útil. Agora que citei essa História, precisarei conhecer sua protagonista e conversar com ela. Estará tudo registrado, e este blog será uma espécie de "livro na íntegra", com maior riqueza de detalhes.

Falando um pouco sobre ele, o propósito aqui é narrar e registrar as novidades, sejam quais forem. Vou postar as minhas fontes de pesquisa, as entrevistas, fotos, vídeos, pensamentos, etc. Este espaço estará aberto àqueles que tiverem interesse em acompanhar ou participar do processo. Estejam à vontade para opinar, sugerir, comentar, acrescentar e observar.

Veja aqui a História de Rose, publicada em dezembro de 2011: http://terradasboasideias.blogspot.com.br/2011/12/na-favela-dando-sentido-vida-numa.html
Hoje é o dia que tem fama de ser divisor de tempos, o último dia do ano. Para 2013 um sonho em projeto, saltando da minha mente e das páginas de outras vidas para as páginas de um livro, destinado a outras mentes.

"Futebol Ferroviário" surge a partir das minhas passagens diárias aos arredores da Favela dos Ciganos, em Utinga, Santo André. Cursei o Ensino Superior na Universidade ao outro lado da ferrovia. Para voltar para casa, passava todos os dias pelo centro comercial da favela. Ali, além dos campinhos de terra que beiram a linha do trem, vê-se um mundo diferente: músicas, cultura, crianças, comércio, tudo diferente. A proposta agora é pesquisar, entrevistar pessoas e contar essas histórias, com um tempero aqui e outro ali de ficção, adentrando as diferenças dos nossos iguais.

Quanto a mim, toco um pouco de violão, canto e componho. Faltou apresentar-me, mas direi o necessário conforme necessário for. Não sou o foco aqui, a arte e o uso dela em favor da retratação da realidade, da manifestação de opiniões e como forma de protesto é o que vos apresento no eixo central destas pontuações. Pois bem, sei que irei me inspirar ao longo das pesquisas e com isso também pretendo  tecer canções e gravá-las. Voilà! A obra estará completa.

Desejo a todos um 2013 cheio de sonhos e determinação para realizá-los. E que finalmente "Futebol Ferroviário" se desprenda das minhas ideias (minhas entranhas) e nasça para o mundo real.