quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Há uns seis ou sete anos atrás, em um período em que eu tocava e cantava em bares e restaurantes, resolvi aprender a tocar "O Meu Guri" do grande Chico Buarque. Comecei pela manhã. Seis horas da tarde e eu ainda me debulhava em lágrimas, sem conseguir decorar um só verso a seco. É muito importante colocar a importância dessa música na minha formação de opinião e discernimento acerca dos diversos pontos de vista. Os veículos de comunicação estão sempre aí, propagando os horrores causados por bandidos, traficantes e afins. Eu não questiono que tudo isso seja prejudicial e deveria ser erradicado da sociedade, mas entendo hoje que existe um outro lado, um grande mal por trás disso tudo, um Sistema. Antes de "pensar", engolindo o imposto pela mídia, tudo o que eu tinha era raiva de bandidos, sem estendê-la ao seu original causador. Ainda hoje ouço o meu avô, um amante declarado dos tempos de ditadura, direcionando toda a sua revolta aos criminosos comuns, esses que não estão nos parlamentos ou têm contas em agências bancárias da Suíça.
Criminalidade é consequência antes de causa, tentar combatê-la sem primeiro oferecer condições dignas a todo e qualquer cidadão, é o mesmo que tentar parar de comer para não ter que limpar a bunda. Não funciona: a necessidade faz a merda! Bem, no caso da sociedade é a própria merda que faz a necessidade...




O Meu Guri
(Chico Buarque)
Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)




4 comentários:

  1. Essa é minha menina! futebol ferroviário, trazendo um olhar crítico a real causa da desigualdade social, presenciado pela a grande maioria vivenciado por muitos compreendida por poucos, uma realidade que faz parte do cotidiano, torna-se comum sua verdadeira causa oculta a olhos nu.
    Desigualdade social,uma realida da sociedade, onde poucos se preocupam em transforma-la.

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  2. Palavras de impulso e apoio de uma grande Assistente Social, minha mãe! Obrigada, mãezinha!

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  3. Parabéns pelo texto, pela visão, pela escolha da música! Que não te falte impulsos para a continuidade do seu projeto!

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  4. Com essas duas me dando a força que dão, de certo não faltarão impulsos! ;)

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